terça-feira, 7 de junho de 2011

Pegadas na areia


Pegadas na areia


Certa noite um homem teve um sonho.

Sonhou que estava a caminhar na praia com o Senhor.
Do outro lado do céu, passavam cenas da sua vida.
Para cada cena, ele percebeu dois pares de pegadas na areia:

Um par era dele, e o outro era do Senhor.

Quando a última cena da vida passou diante dele,
Olhou para trás, para as pegadas na areia.
O homem notou então que, muitas vezes,
No caminho da sua vida, havia apenas um par de pegadas.
Notou também que isso aconteceu precisamente nos
Momentos mais tristes da sua vida, o que realmente o entristecia.

Então questionou o Senhor sobre isso:

"Senhor, Tu disseste que, uma vez que eu decidi seguir-te,
Tu andarias sempre comigo.
Mas tenho notado que na maior parte dos
Momentos difíceis da minha vida há apenas um par de pegadas.
Eu não entendo porque é que, quando
Eu mais precisava de Ti, Tu me abandonaste".

O Senhor respondeu:

"Meu filho, meu querido filho,
Eu amo-te e jamais te deixaria.
Durante o teu tempo de provação e de sofrimento,
Quando tu apenas vês um par de pegadas,
Foi nessa altura que eu te levei ao colo. "



Quando vier a Primavera


Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.


Alberto Caeiro